quinta-feira, 16 de julho de 2009

.viver até morrer

A partir de uma certa idade, só sabemos falar de doenças (E isto não é a propósito da mediática gripe A que é tão ou mais falada que o Cristiano Ronaldo ter mudado de clube).

Na verdade quando atingimos uma determinada idade as nossas conversas vão sempre acabar nas doenças. À vontade, 54% do nosso conteúdo comunicativo vai rondar as doenças em geral... 36% terão lugar as memórias! Grandes, pequenas, turvas e confusas... As grandes memórias que fazem com que as outras pessoas sejam simpáticas, mesmo simpáticas e nos aguentem durante uma hora a contar uma conversa por sms ou uma discussão no hi5 (Sim, com este andar, os nossos netos terão pouco de histórias com cenários reais). Estou mesmo a ver o meu futuro marido a contar aos filhos dos meus filhos " Conheci a tua avó num desses chats manhosos. Tirei-a da má vida. Deixei-lhe um comment no myspace e bati-lhe o coro a partir daquelas sms que se mandava para o 3456 com os nossos nomes e signos... Na altura deu 78% de compatibilidade e zau, casei-me com ela. Mas ia sempre ver os hi5's das babes!" - É, parece-me bem o meu futuro marido.

Os 10% que sobram ficam para as conversas ocasionais como: já não via um dia assim há 20 anos; comprei pão-de-leite como a minha mãe comprava; este software é parecido com a nintendo 64.. bons tempos!; tenho uma doença que fico com uma erecção mesmo dura durante horas e não consigo baixar (porra! voltou às doenças)

Será que nos vamos lembrar dos velhos que passaram na nossa vida quando também nós formos velhos? Será que devemos lutar contra a morte? Ou aceitá-la? Tipo termos 79 anos, doença terminal e passar dois anos da nossa vida no hospital a sermos drogados, sem falar com ninguém e pior que tudo, a ver televisão... argh!
Acho "piada" às velhas que vão todos os dias ao hospital de Matosinhos... Vão lá, já são da casa... Nem lhes pedem a ficha. "Como é dona Arminda? Que temos hoje? Uma unha encravada?"... E aquelas velhas que andam de autocarro... Uma vez apanhei uma, a quem eu educadamente perguntei: Vai apanhar o 75 para a Maia? e ela me respondeu: "oh filha.. para mim é iguale. A gente bai pa dar uma bolta, ber quem anda na rua... ber quem ainda é bibo, num é?" Pois, acredito que seja. Se calhar a nossa geração, com 60 anos vai dizer "ei, vou ligar o meu facebook a ver se ainda há alguém que consiga teclar" e vamos ver lá nos moods do pessoal "Marta está com Alzheimer" e depois comentários do pessoal: “Ahh Martinha cuida de ti!” - ao que a Marta responde - "O quê? Quem és tu!? Vou-te bloquear....!!!" - e bloqueia.

Eu acho que vou curtir ser velha... Vou estar sempre a usar expressões como "Esta canalhada!!" e começar as minhas frases com "No meu tempo.." como se o tempo que estarei a viver, mesmo com 70 anos, não me pertencesse da mesma forma que este tempo me pertence... Bem, provavelmente vou-me aborrecer... os meus amigos de agora são quase todos mais velhos por isso quando eu estiver com 70 anos, já devem estar todos mortos ou senis. Resta-me a minha família, os meus filhos, são meus filhos, não me vão suportar isso é dado adquirido! E certamente não serei grande exemplo para os meus netos pois já falei com uma amiga minha enfermeira e fiz um documento a dizer que se tiver que tomar qualquer comprimido que seja diariamente, só aceito ácidos, cocaína, heroína e derivamos. Cogumelos e Lsd aos fins-de-semana. Portanto vai ser complicado lidar com eles sem acabarmos em brincadeiras parvas como entrar num banco (que espero que nessa altura já não existam) mascarados de ninjas e quem sabe sermos abatidos pela PIDE do ano 2059... Venha a velhice. Vou sugar todo o tempo que existir. E só não sugo o resto porque os bichinhos vão me comer, ou os alunos do hospital s.João vão-me cortar aos bocados, ou se calhar vou parar aos vossos armários mascarada de pó.